terça-feira, 3 de abril de 2012

Sindicato dos usuários de iPhone entra com representação contra Instagram para Android


O Sindicato dos usuários de iPhone entrou com uma representação nesta terça-feira contra o uso de Instagram para Android. A alegação é que a empresa infringe a regra de exclusividade que os detentores do smartphone da Apple possuem quando compram o aparelho.

Segundo o presidente do sindicato, Felipe Lite, o aplicativo para Android “tolhe a exclusividade dos usuários de iPhone, garantida pelas operadoras quando vendem o produto”. O temor, segundo ele, é que o serviço tenha uma queda de qualidade, já que os usuários de Android não possuem formação considerada adequada ao aplicativo, segundo o sindicato. “É como eleger um presidente sem formação superior”, continuou.

Em nota o sindicato ainda publicou que os usuários estão mobilizados para protestar contra a decisão da empresa de colocar o aplicativo à disposição para usuários de Android. Os donos  de iPhone planejam uma ação parando o trânsito de São Paulo e buzinando incessantemente do alto das suas SUVs. Além disso, prometem criar dificuldades para a entrada em bares e casas noturnas das regiões da Vila Madalena, Pinheiros e Vila Olímpia com o objetivo de causar grandes filas nesses lugares.

Perguntado sobre a possibilidade de acordo, Felipe Lite disse que acredita ser difícil. “Caso o aplicativo continue disponível, entraremos com uma ação para obrigar usuários de Android a fazer cursos de fotografia no exterior para manter o nível da rede social elevado”, disse. Atualmente, para comprar um iPhone é necessário fazer uma viagem ao exterior conhecendo o trabalho dos principais fotógrafos europeus e tirar fotos dos mais famosos monumentos do Velho Continente. As fotos devem usadas em perfis no Facebook, que serão usadas para provar que a pessoa tem condição de adquirir o telefone da Apple.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Ah, história, me tens de regresso

Conhecer a história é uma forma de conhecer a nós mesmos. A frase parece dessas babacas de autoajuda que vendem em livros com nomes engraçadinhos por aí, mas ela tem muito sentido. Aula de História do Brasil Independente I, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Um pouco da nossa história, de como o Brasil se tornou o Brasil. E como a história explica o que somos... A história da independência é incrivelmente reveladora. Me acompanhem.

Para começar a premissa básica do Estado brasileiro é que ele não nasce para incluir. A ideia é que precisa controlar os selvagens, manter a civilização. Nunca houve sequer uma lei racial no Brasil. O preconceito nunca esteve explícito. Presente, mas disfarçado de um "mas não é uma questão racial, é social". Era, de fato. Como ainda é. Mas é racial também...

Teve muito mais. Aqui era o país dos liberais, mas liberais escravistas. Pois é. Liberdade, igualdade e fraternidade? É, só que adaptado à realidade do Brasil recém Imperial. Liberdade é igualdade. Mas quem pode ser igual? Quem tem posses. Porque é preciso que seja garantida a liberdade da desigualdade, já que os homens são naturalmente desiguais, nascem desiguais. E, portanto, precisam da liberdade de poder exercer essas diversas habilidades, sem que aqueles que não as possuem atrapalhem. Criativos esses liberais brasileiros.

Não era só isso. O famoso laissez faire, usado como um mantra do liberalismo, era presente no Brasil dessa época também. Sim, os senhores de escravos liberais queriam que o Estado intervisse pouco, quase nada. Só se fizesse presente quando fosse para retalhar as rebeliões de escravos e para manter o fornecimento incessante de escravos. Ninguém sequer cogitava ceder alguns escravos para construir estradas que facilitassem o transporte, mesmo que isso fosse ajudar no transporte de mercadorias e até mesmo para que chegassem escravos. Bem comum? Não senhor, penso no meu e acabou. O mundo fora da fazenda não me importa. Qualquer semelhança é mera coincidência.

Tem mais. Democracia? Não é possível falar nisso no Brasil imperial. Ora, como por que? Os liberais da elite brasileira, que comandaram a independência do país, queriam livrar-se da tirania do governo do absolutista D. Pedro I. Mas não podiam deixar que o povo da rua, a plebe, tomasse o poder. Não seria a democracia, seria a canalhocracia, uma dominação tirânica da massa despreparada sobre os mais bem preparados para pensar em governo e Estado. Parece estranho? Mas fazia todo o sentido. E faz sentido porque explica um pouco de como vivemos em 2012, quase 200 anos depois.


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A falsa dualidade de salários de jogadores famosos e professores


Vieram me falar sobre o “Mulheres Ricas”, novo programa da TV Bandeirantes, me dizendo que seria bom eu ver porque eu “escrevo sobre coisas críticas”. Como não escrevo sobre doentes terminais, guerra civil na África ou qualquer coisa do tipo, não entendi muito bem o rótulo que me deram. Terminaram a indicação dizendo que era uma afronta, mais um reality show que mostra ostentação, que esse país é um absurdo, que temos jogadores ganhando milhões, deputados ganhando salários exorbitantes e professores ganhando miséria. Opa, peraí, vamos com calma para não misturar alhos com bugalhos. Vamos conversar sobre isso.

Neymar: astro mais bem pago do futebol brasileiro
Não foi a primeira vez que esse tipo de comparação chegou até mim. Constantemente recebo e-mails indignados com comparações desse tipo. E com o Big Brother Brasil se aproximando, você certamente ouvirá isso também quando se falar do programa da TV Globo. Como pode um participante de um reality show ganhar essa fortuna enquanto milhares passam necessidades? Uma crítica ainda mais pobre do que as pessoas que passam as necessidades que quem usa esse argumento tenta exemplificar.

Professores ganham mal no Brasil e isso é um fato. Não deveria ser assim. Ninguém discute isso. Só que comparar o salário de um professor com um grande atleta é descabido. Os grandes atletas geram muito dinheiro e, por isso, recebem também muito dinheiro. Pode se discutir se recebem mais do que deveriam, se o mercado não supervaloriza os salários dos grandes atletas. Compará-los com professores é esdrúxulo. Os professores devem ter o salário mais alto, mas esse é um problema de políticas públicas do país. Grandes atletas ganharem menos não traria o benefício de professores ganharem mais do que atualmente. Tanto que em países onde o professor é mais valorizado há atletas que são muito bem pagos. Uma coisa nada tem a ver com outra.

“Mas é um insulto que o Ronaldinho Gaúcho ganhe mais de R$ 1 milhão e um professor ganhe R$ 1 mil” (sério, recebi isso por e-mail). É uma diferença enorme, mas a culpa não é do Ronaldinho e nem do esporte. Claro que a comparação é chocante, mas vilanizar os jogadores que recebem os altos salários é direcionar as forças para o lado errado. Em um dos e-mails que recebi, a comparação dizia: “Neymar: R$ 3 milhões para chutar uma bola (...). Professores: R$ 1000 para ensinar as pessoas, algo que não é mesmo importante”. Mais uma vez, a origem do dinheiro que paga as duas profissões são completamente distintos e comparar um ao outro é apenas uma demagogia.

Se formos analisar em um microscópio todo o dinheiro mal gasto em relação ao que deveria ser, e aquela sua viagem ao nordeste em hotel cinco estrelas? E aquele carro que você comprou pagando R$ 70 mil, se você podia ter um carro de R$ 30 mil? E aquela compra desnecessária no seu cartão de crédito só para satisfazer uma vaidade? Ora, quer dizer que o jogador não pode ganhar um dinheiro que oferecem a ele, mas você pode gastar R$ 500 para ir no show do Lollapalooza e tudo bem?

Chegamos então aos deputados. Sim, eles ganham muitas mordomias. Sim, ganham mais do que fazem valer. Sim, custam muito para o governo que tem a conta paga por todos. O que temos que pensar é que do mesmo modo como reclamamos que os policiais deveriam receber um salário maior e mais justo para diminuir a tentação da corrupção, os deputados não podem ganhar mal em um lugar onde as tentações por corrupção também são altas, talvez mais do que em qualquer lugar.

É justo reclamar que os deputados ganham benefícios em excesso e gastam mais do que deveriam. Só não dá para querer que eles ganhem mal. Os salários dos legisladores devem ser altos sim, porque essa é uma forma de tentar evitar a corrupção. Alguém deve estar gritando que isso não adianta nada, já que estamos em um país bastante corrupto. O problema, então, não é o salário, mas a falta de fiscalização do governo sobre isso. E, em outra escala, culpa nossa por permitir que isso aconteça e continuarmos elegendo os mesmos, não se manifestando quando algo de errado acontece ou, pior, chamando de vagabundos aqueles que tentam protestar contra o que consideram injusto. Não é difícil pensar em exemplos, inclusive recentes, não é mesmo?

Então, que tal pensarmos um pouco melhor nos argumentos que usamos e pararmos de usar esse argumento rasteiro? Seria bom para todo mundo, inclusive para discutir como melhorar, e não só dizer que o Neymar ganha muito.

PS: Sequer cheguei a ver "Mulheres Ricas". Mas não é criticando o que quer que se passe no programa que vai se conseguir uma melhora para outros setores da sociedade. Não se esqueça de olhar na sua fatura do cartão de crédito. Tem certeza que você não faz o mesmo que elas dentro do que você pode pagar?

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Porque durmo quatro horas ou sobre o sistema de transporte em São Paulo

Algumas pessoas se assustam quando eu digo que durmo quatro horas por dia. Perguntam a razão e eu digo: acordo 5h da manhã, chego em casa depois da faculdade próximo de meia-noite. A pergunta seguinte é sempre: por que acordar 5h da manhã? Pergunta justa, já que entro no trabalho às 9h. E a resposta tem tudo a ver com logística. Explico.

Moro em uma região afastada de São Paulo, na zona leste. Para chegar às 9 horas do outro lado da cidade, preciso sair no máximo 7 horas. Ainda assim, é um problema. O micro-ônibus já vem lotado. No metrô, a situação é ainda pior. Lotado, mas tão lotado, que para conseguir entrar no trem, é preciso esperar 5, 6, 7, 8 trens passarem até chegar sua vez. Isso em um dia sem problemas no metrô - algo que tem acontecido cada vez menos.

Dentro do trem, é possível imaginar o caos. Um absurdo número de pessoas em um mesmo metro quadrado. Falar em descoforto é um eufemismo. Mas, depois de algum tempo, acaba (às vezes levando fones de ouvido que se enroscam quando as pessoas tentam sair desesperadas do trem no meio daquela lotação absurda). Chega a estação e vem outro ônibus. Neste horário, cheio, claro. Cerca de 2 horas depois, lá estamos no trabalho. Eventualmente atrasado.

Para evitar esse caos, acordo um pouco antes, saio um pouco antes, pego ônibus e metrô cheios, mas não estupidamente lotados, e consigo chegar no trabalho em um tempo ao menos meia hora mais rápido - ou seja, em 1h30. Normalmente, mais rápido do que isso: demoro, algumas vezes, pouco mais de 1h. Aí chego cedo no trabalho, tenho tempo de passar na padaria, tomar café, chegar cedo e poder adiantar tarefas pendentes, algo que eu tenha que fazer para a faculdade.

Alguém vai dizer: "Nada vale acordar 5 horas" ou "para dormir mais, eu enfrentaria isso". Eu enfrento essa loucura de atravessar a cidade para trabalhar há nove anos. Sem contar o tempo que enfrentava para estudar, ainda na escola - porque estudava longe de casa e também e usava esses mesmos transportes para chegar lá.

Dormir cedo não é opção porque estudo à noite e muito, muito longe de casa. Claro, estudo por opção minha. E se perguntam porque não estudo mais perto, a resposta é muito simples: só estudo porque é de graça, não tenho como pagar. E consegui passar em uma universidade pública, depois de me formar em uma privada através de um financiamento do governo (que eu pagarei por mais dez anos, mas isso é assunto para outro dia).

Dormir quatro horas, então, é uma opção, em parte. Poderia dormir cinco, se saísse de casa uma hora mais tarde para chegar às 9h no trabalho. Teria que enfrentar esse inferno um pouco pior do que faço hoje. A minha opção foi tentar sofrer um pouco menos.

A maior parte da população de São Paulo vive nas periferias, distante do centro e do trabalho. É um fardo que milhões precisam passar todos os dias. Essa é a situação do transporte da cidade mais populosa do país. Algumas opções podem ser feitas - como acordar um pouco mais cedo, correr menos risco de atraso e pegar o transporte mais vazio. Outras não podem.

Por exemplo, morar perto do trabalho. Pinheiros, Itaim, região da Paulista? Todas caras, com aluguéis que consumiriam 80% do meu salário. Inviável. Desde 2006 estudo essa possibilidade. Mais uma vez, essa é a situação da maioria das pessoas que mora nesta cidade. Claro que todo mundo gostaria de morar perto do trabalho. Quem não gostaria? A questão passa não por querer, mas por poder. Neste caso, ainda não encontrei uma forma de poder. Se um dia puder, sem dúvida farei isso. Enquanto não é uma opção, trabalho com as variáveis que existem. E essas são elas.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sim, sou do contra

Não acordo de bom humor. Dizem que não se pode começar um texto com não, mas, bom, e daí? Sou do contra. Confesso. Sou mesmo. Várias vezes eu discordo. Sou pré-disposto a discordar. E sim, eu tenho dificuldade de concordar de cara. Várias vezes eu me calo quando não tenho argumentos, porque o silêncio é preciso quando não temos nada inteligente a dizer.

Sou desses chatos que critica quem coloca status "feliz", "muito feliz" e afins. Sim, pego no pé, sou chato, porque acho que quem é feliz vai lá viver isso, não fica falando isso nas redes sociais para pagar de "minha vida é legal, tá vendo?".

Critico quem lê "O Segredo" e digo que é besteira. Porque acho que é mesmo. Apela para a emoção quando, na verdade, o que importa são as ações. Critico pelo mesmo motivo que falo de "Quem mexeu no meu queijo" e "Você S.A.", livros bobos, que sentimentalizam ações práticas. Falo porque sou prático. Sou determinado a fazer algo e não preciso de carga emocional elevada para realizar. E olha que vira e mexe dá errado.

Agora, é fato que o cara que escreveu "O Segredo" é genial por uma percepção que ele teve: as pessoas precisam de apoio emocional o tempo todo. São carentes. A internet veio mostrar que a necessidade de se expor não é só pelo egocentrismo, é pela necessidade de aprovação, de receber apoio, elogios, ajuda, contato, ainda que para falar mal. E, claro, elogios, mesmo que de desconhecidos, mesmo que nem sejam lá tão sinceros.

Corrijo muitas pessoas que escrevem errado. Amigos, inclusive (alguns diriam que principalmente). Corrijo porque me incomoda e porque não me custa nada. Se são amigos, é parte da obrigação de amigo avisar. Se não é, aviso apenas porque me irrita mesmo.

Sim, eu confesso. Sou do contra.