quarta-feira, 21 de março de 2012

Ah, história, me tens de regresso

Conhecer a história é uma forma de conhecer a nós mesmos. A frase parece dessas babacas de autoajuda que vendem em livros com nomes engraçadinhos por aí, mas ela tem muito sentido. Aula de História do Brasil Independente I, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Um pouco da nossa história, de como o Brasil se tornou o Brasil. E como a história explica o que somos... A história da independência é incrivelmente reveladora. Me acompanhem.

Para começar a premissa básica do Estado brasileiro é que ele não nasce para incluir. A ideia é que precisa controlar os selvagens, manter a civilização. Nunca houve sequer uma lei racial no Brasil. O preconceito nunca esteve explícito. Presente, mas disfarçado de um "mas não é uma questão racial, é social". Era, de fato. Como ainda é. Mas é racial também...

Teve muito mais. Aqui era o país dos liberais, mas liberais escravistas. Pois é. Liberdade, igualdade e fraternidade? É, só que adaptado à realidade do Brasil recém Imperial. Liberdade é igualdade. Mas quem pode ser igual? Quem tem posses. Porque é preciso que seja garantida a liberdade da desigualdade, já que os homens são naturalmente desiguais, nascem desiguais. E, portanto, precisam da liberdade de poder exercer essas diversas habilidades, sem que aqueles que não as possuem atrapalhem. Criativos esses liberais brasileiros.

Não era só isso. O famoso laissez faire, usado como um mantra do liberalismo, era presente no Brasil dessa época também. Sim, os senhores de escravos liberais queriam que o Estado intervisse pouco, quase nada. Só se fizesse presente quando fosse para retalhar as rebeliões de escravos e para manter o fornecimento incessante de escravos. Ninguém sequer cogitava ceder alguns escravos para construir estradas que facilitassem o transporte, mesmo que isso fosse ajudar no transporte de mercadorias e até mesmo para que chegassem escravos. Bem comum? Não senhor, penso no meu e acabou. O mundo fora da fazenda não me importa. Qualquer semelhança é mera coincidência.

Tem mais. Democracia? Não é possível falar nisso no Brasil imperial. Ora, como por que? Os liberais da elite brasileira, que comandaram a independência do país, queriam livrar-se da tirania do governo do absolutista D. Pedro I. Mas não podiam deixar que o povo da rua, a plebe, tomasse o poder. Não seria a democracia, seria a canalhocracia, uma dominação tirânica da massa despreparada sobre os mais bem preparados para pensar em governo e Estado. Parece estranho? Mas fazia todo o sentido. E faz sentido porque explica um pouco de como vivemos em 2012, quase 200 anos depois.