quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A mulher dos sonhos

Reconhecia bem onde estava. Era estranho estar ali, depois de tanto anos. Não me sentia à vontade, parecia que o lugar não fazia mais parte de mim. Talvez não fizesse mesmo. Não lembrava a razão de estar ali, naquele momento.

Olhava para o lado para tentar entender. Sentado no chão e encostado em uma pilastra, observava o que acontecia, sem saber bem o que fazia ali. Via rostos conhecidos, mas não falava com nenhum deles. Aliás, parecia que eu sequer existia naquele lugar. Me sentia um observador externo, como se ninguém pudesse me ver mas eu pudesse ver a todos.

Foi quando eu a vi. Ela não tinha nada a ver com aquele lugar. Nenhuma relação, nada. Tinha a ver comigo, só comigo. Um momento passado, mas com ela, ali, totalmente presente e atual. Uma combinação inexplicável - mas que eu sequer pensei na hora.

Ela estava toda de preto, saia e blusinha. Os olhos com o brilho que eu já estava acostumado a me encantar todas as vezes como se fosse sempre novo. A pele, o sorriso, o olhar que tirou toda armadura que me protegia desses sentimentos.

Ela sorriu para mim e veio andando em minha direção. Abaixou-se na minha frente e me beijou, de uma forma que eu nunca vou me esquecer. Uma forma que me pareceu tão familiar... "Queria bater o recorde daquele dia", ela disse.

Ali eu senti que tudo aquilo fazia sentido. Não precisava ser explicado, era para ser vivido. Ela e seu vestido preto, ela e seu beijo misterioso, ela e meu desejo mais intenso, que ela parecia conhecer perfeitamente. 

Quando vejo, estou de olhos fechados. Torcendo para que aquele beijo seja de verdade um dia.

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