quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A mão "invisível do mercado" tomou um tapão do governo americano

Um dos tópicos que sempre causa controvérsia em pessoas que gostam de política (seja em aulas de história, seja em aulas sobre economia, seja em uma mesa de bar) é a intervenção do Estado na economia. Quem prega esse tipo de prática é o liberalismo econômico, forte em países como os EUA.

O liberalismo é a doutrina política que propõe um Estado limitado, com menos participação na economia. John Locke (1632-1704) foi um dos principais ideólogos do liberalismo, que justamente buscava na liberdade individual uma forma de mudar o absolutismo monárquico e o direito divino, ainda muito fortes em sua época.

Um dos pilares dessa doutrina é o livre mercado. Esse ponto é o chamado "liberalismo econômico", que já foi adaptado e é chamado de neoliberalismo. A idéia é a não intervenção do mercado na economia, com comércio sem restrições, diferente do mercantilismo e do protecionismo.

Os Estados Unidos é considerado o país do liberalismo, que defende um mercado aberto, uma concorrência livre, um mercado que viva sob uma auto-regulação - é a "mão invisível" do mercado.

Os americanos levantam essa bandeira por dois motivos básicos. Um deles é histórico. Os Estados Unidos têm em sua história uma luta por direitos individuais, especialmente pela forma como foi formado - colonos ingleses expulsos da Inglaterra. A liberdade individual sempre foi fundamental para que os Estaods Unidos pudesse nascer como país.

O segundo motivo é econômico. Aproveitando o vácuo deixado pelas potências européias em guerra, no início do século XX, os americanos fizeram sua economia - que já vinha em pleno crescimento - se expandir para todo o mundo. Sua indústria é forte e substituiu à altura os europeus - às vezes até de forma mais eficiente, uma característica dos EUA.

Avançando mais de 50 anos no tempo, os EUA possuem um PIB maior do que qualquer outro no mundo. A livre concorrência, nesse caso, beneficiaria a quem mais (e melhor) produz - não por acaso, são eles. Assim, o liberalismo econômico é uma doutrina bastante clara para os americanos.

Porém, o protecionismo - algo que os EUA condenam nos países subdesenvolvidos, especialmente no ramo de eletrônicos - faz parte do cotidiano americano. Os commodities importados pelos americanos sofrem grande tarifação, para proteger os produtores dentro do país - haja vista a laranja brasileira, de melhor qualidade e preço do que as americanas, mas que sofrem tarifação de quase 30% para não quebrar os produtores americanos.

Olhando por esse prisma, os Estados Unidos parecem defender o liberalismo apenas naquilo que lhe interessa. A rodada de Doha mostrou exatamente isso: os desenvolvidos querem menos tarifas alfandegárias para os produtos eletrônicos e manufaturados em geral, mas não querem abrir mão dos subsídios e da sobretaxa sobre os produtos agrícolas.

Essa semana, porém, o liberalismo americano (nesse sentido econômico, já que o sentido político de liberalismo nso EUA é completamente diferente) sofreu um duro golpe. O governo americano fez uma grande intervenção nos dois maiores bancos de financiamento imobiliários do país, Fannie Mae e Freddy Mac. O governo demitiu diretores e investirá U$ 200 bilhões para salvar as duas empresas.

A intervenção, dizem analistas, era fundamental. O erro foi a falta de fiscaliazação do governo. Vejam só, o problema foi que a mão invisível ficou fora de controle! Logo no país com economia mais liberal do mundo.

Se fosse em uma país subdesenvolvido, provavelmente essa medida seria encarada como "atrasada", uma estatização de duas empresas privadas. Ao que parece, a economia não pode caminhar assim tão solta como os EUA parecem querer acreditar (ou nos fazer acreditar)....

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