terça-feira, 2 de novembro de 2010

Fim do Fla-Flu nas urnas, violência na briga das torcidas

Finalmente, acabaram as eleições. O último dia 31 foi o final de um processo que foi doloroso, pelas tristes campanhas feitas, cheias de ataques, usando táticas de ataques inescrupulosos. Mais do que isso, a campanha online foi terrível. E-mails de "denúncia" para lá e para lá, com supostos "dados" que implicavam contra o candidato ou a candidata.

Eu vivi uma situação que me causa incômodo até agora. Um dos muitos e-mails de "denúncia" que chegou tratava do tal bolsa-família. Um porteiro em uma cidade do nordeste tinha pedido demissão, porque seu salário de R$ 800 era superado por auxílios que totalizavam R$ 1.900, dando links para a lei do bolsa-família para "comprovar" os dados. Claro, a ideia era bater no PT e na Dilma, criticando o programa.

Achando aquilo muito estranho, porque havia auxílios do tipo "vale transporte", eu fui checar os benefícios. Encontrei muitos deles não existentes e dos que sobraram, três deles ainda estavam ativos. Dos três benefícios, dois deles eram de 2001 e um de 2003. Isso significa que dois deles eram do governo Fernando Henrique, enquanto um era do governo Lula. Ou seja, já complicou a crítica.

Respondi a todos (já que os e-mails estavam abertos) perguntando se alguém tinha checado e mostrando o que eu tinha conferido. Disse ainda que era preciso cuidado com essas coisas, porque esse diz-que-me-diz era só prejudicial.

O resultado? Quem me encoaminhou o e-mail ficou muito bravo comigo, a ponto de não querer mais sequer conversar. Disse que se sentiu desmentida para os amigos, porque eu respondi a todos. Me desculpei, porque a ideia não era desmenti-la para os amigos, mas esclarecer algo que era, claramente, uma mentira.

Isso foi antes da eleição. Achei que o depois da eleição seria um pouco melhor. Ledo engano. Com a vitória de Dilma, começaram a surgir manifestações insatisfeitas, o que é muito natural e democrático. O problema é que foi além disso. "O povo é ignorante, nãio sabe votar". Acho engraçado porque quem fala isso não se considera povo, imagino.

E ficou pior. "Mate um nordestino", "Escola para eles", "Essas pessoas que mal sabem ler e escrever podem votar, vergonha". O Tumblr Xenofobia Não juntou algumas das piores manifestações nesse sentido, que faz ter nojo dessas pessoas. É contra os seres humanos. Isso sim é ser contra a vida.

É ignorância porque as grandes capitais são formadas, todas, por migrantes. São Paulo e Rio de Janeiro, duas das maiores, receberam uma parcela gigante de nordestinos que ajudaram a formar a cidade e torná-las grandes. Até hoje, são esses migrantes e seus descendentes que ajudam a manter a força de trabalho.

Aliás, isso gera um preconceito interno, dentro da própria cidade de São Paulo, onde vivo, contra as pessoas da periferia - muitas delas nordestinos ou descendentes.  O argumento é sempre esse: "ignorantes", falando da sua falta de escolaridade - que nem sempre é verdade, diga-se, mas mesmo se fosse, não seria motivo. Já cheguei a ouvir que quem tem ensino superior deveria ter "peso 2" no voto. Isso mesmo: quem não tiver oportunidade de estudar, não terá o mesmo peso de voto, o que, em tese, aumentaria a diferença social, já que quem é estudado e pertence a uma outra classe social tem interesses diferentes daqueles que não têm.

Quero fechar aqui dizendo o seguinte: é inocência achar que Dilma venceu a eleição por causa de bolsa-família. Há muito mais envolvido. No tão aclamado Sudeste, Dilma teve mais votos que Serra se os estados forem somados. E mesmo sem Norte e Nordeste, a candidata do PT teria vencido, como mostra matéria do G1.

Precisamos parar e pensar sobre o que foram essas eleições, como agimos e onde estamos. O nível foi um dos piores do período democrático. De tudo que eu vi, só não foi pior do que a eleição presidencial de 1989, onde todos os lados usaram das piores práticas de terrorismo social, espalhando medo e mentiras. Desta vez, com a internet, os boatos tornarem-se faíscas que encontraram nas redes sociais palha pronta a ser queimada e espalhar-se rapidamente. Repassar coisas que nem sabemos que é verdade, tomados por medo, resulta no que vimos: uma guerra de diz-que-me-diz e o debate político - já pobre em outras eleições - pior, esvaziado, quase nulo.

Daqui dois anos teremos novas eleições, em nível municipal. Vamos começar por agora pensando e tentando melhorar nossa postura?