terça-feira, 27 de outubro de 2009

Saúde pública, decepções e surpresas

Nos últimos meses, virei especialista em LCA. Não sabe o que é? Ligamento Cruzado Anterior. O problema que me afetou mais de um ano e que ainda estou recuperando, pós-cirurgia. Se a recuperação é longa (sete longos meses até poder correr e jogar futebol de novo), mais demorado ainda foi chegar até aqui.

Junho de 2008. Jogando futebol, depois de muito tempo, machuco o joelho. Em princípio, parecia nada muito sério, ligamentos laterais, gelo, antiinflamatório. Quando a dor passou, nova tentativa de futebol em agosto. O primeiro pique e a mesma dor. Nova consulta. Como saúde pública demora (ainda que pelo Hospital Universitário da USP, como aluno da universidade, o que dá uma espécie de "convênio" por lá e no Hospital das Clínicas, também da universidade), só em outubro.

Chega outubro. Espera, exame, constatação: parece sério. Pedido de exame de ressonância magnética. Só em dezembro. Não tem vaga antes. Chega dezembro, faço o exame. Pego o exame no começo de janeiro. Vou marcar a consulta. Vaga? Só em março. Espero.

Março. "Você precisa operar". Ok, já sabia, àquela altura, depois de falar com quem teve problemas parecidos, pela experiência em acompanhar noticiário esportivo. Lesão completa no Ligamento Cruzado Anterior e no menisco. Não se faz operações desse tipo no HU. Transferência para o HC. Para isso, dois dias de espera na burocracia. Depois, mais espera até ser marcada consulta.

Final de março. Hospital das Clínicas, Departamento de Medicina Esportiva. Exames e novamente o mesmo diagnóstico: cirurgia. O problema? Não tinha vagas. Demoraria cerca de três meses.


1º de outubro. Ligação do HC. Exames na sexta (que acabaram acontecendo na segunda também) e operação na terça. Sim, finalmente era chegada a hora. Quase seis meses depois - ao invés dos três previstos.

"A operação é a parte fácil", disse o médico. "Difícil é a recuperação". Fisioterapia? Não tem vaga. Marcação prévia para dezembro. "Eles ligam". E nada. Lofo depois da cirurgia, dor imensa nos primeiros dias. Dor constante nos seguintes. Muletas. Por mais de um mês. Duas semanas de molho, tentando trabalhar de casa, fazer o que é possível. Dores, que tinham diminuído, reaparecem. E como fazer? Dias em casa para ver se resolve.

Telefone toca. HC. Fisioterapia vai começar em dois dias. Sim, surpreendentemente, na última semana de outubro chamam para começar a fisioterapia. Pouco mais de um mês antes do previsto! Sim, às vezes o sistema de saúde pública consegue fazer boas surpresas. Exatamente 21 dias depois da cirurgia, eles ligam. O ideal seria antes, mas o fato de ter saído já é um grande alívio.

E vamos que vamos. De muletas, claro.