terça-feira, 26 de maio de 2009

2 roupas, 2 comportamentos

Manhã. O sol já está alto, mas o vendo frio ainda impera. As pessoas se juntam, involuntariamente, rumo aos seus destinos. Os olhos se encontram com muitos outros olhos. Na maioria das vezes, não dura nem um segundo.

Alguns olhares duram mais. Medem. Encaram. Sentem. Até paqueram, despretenciosamente. Olhares perdidos, esquecidos, distraídos, sérios. Parados. Analisam. Ela, calça social preta, risca de giz, uma blusa branca, fechada, bastante sóbria e um blazer preto, também risca de giz. Loira de cabelos bem claros, olhar sério, centrado. Olhos castanhos, não muito claros. Entre 28 e 32 anos, provavelmente.


Roupa, a personalidade de vestir

Ele, camiseta cinza, calça jeans azul escuro, tênis, cabelo arrumado, mochila nas costas, fone no ouvido, barba por fazer. A idade é algo entre 22 e 26 anos. Olha para Ela, que não tira a frieza do olhar. Se posiciona, se segura, enquanto o metrô segue. A postura dela é de uma mulher segura, quase-auto-suficiente. Ele lembra-se de quando, vestido de terno e gravata, olhavam-no com um ar de seriedade, maturidade e, por que não dizer, certa admiração.

As roupas, dizem, falam por nós. A moda está presente em nós mesmo se a renegarmos. Curioso como uma relação de mulher, um pouco mais velha e roupa social com um homem com roupas mais informais, aspecto mais jovem nos acessórios também, cria uma barreira que, em outra situação sequer existiria. Talvez até os aproximasse, se a diferença de roupas, pura e simplesmente isso, não fosse tão visível.

Ela o observa, discretamente. Sente que ele direciona seu olhar para ela frequentemente. A procura. Ela não se parece se incomodar, mas tampouco tenciona tornar o rosto mais suave, destravar os lábios e sorrir. Mantém-se firme. Ele também não esboça um sorriso, mas olha para ela procurando qualquer pequeno sinal de receptividade.

As roupas dele sugerem que ele é mais novo. Que talvez ganhe menos. Talvez seja imaturo. A camiseta, o jeans, o tênis, a mochila... Aquele aspecto um tanto jovem demais para uma mulher como ela, com seu blazer bem cortado, sua calça social, sua maquiagem muito sóbria, ainda que bela.

O sinal toca. Movimentação, dispersão, Ela some dele, ELe some dela. Ela sequer olha para trás. Continua seu caminho, sem saber se está sendo caçada pelos olhos dela. Nem se preocupou. Ele não a procura - inútil buscar a atenção de quem não a deu em nenhum segundo inteiro.

Ela vai para a grande corporação que trabalha, linda, imponente, impecável. Ele vai apenas trabalhar, com seu jeans, camiseta e mp3 no ouvido, cantando em silêncio.

sábado, 23 de maio de 2009

Todo dia

A música dá início ao dia que começou antes do último suspiro do dia. E começa com "I'm I lost? Sent too far away...". Parece prever o que virá pela frente.



Os olhos procuram onde se prender, como se estivesse buscando um ponto de apoio em uma escalada. Qualquer vacilo, e caem, fechando as cortinas do mundo. Mundo que pede que tudo aconteça ali, rápido, agora, já, para ontem, muito, sempre.

Se a visão está comprometida, a audição tenta manter o sistema funcionando, se embriagando com melodias e letras, que se esmagam na falta de ar, no pé pisado, no espaço disputado, no calor inevitável, nas expressões sérias, na falta de sorrisos, nos rostos femininos maquiados, nos olhares não correspondidos.

As palavras finalmente chegam, atrolepadas por um montro chamado prensa pressa. Elas aparecem, se combinam e se tornam poderosas. De despretenciosas, ganham vida, significado, traços, personalidade, preconceitos, julgamentos, amores e ódios. Sem sequer ter pensado nisso.

Os olhos já não buscam mais apoio. Foram abastecidos por substâncias químicas pesadas, porém naturais, transformadas em líquido preto. O efeito não é o esperado, mas o passar do dia se encarrega de manter os olhos abertos.

O sol, na descendente, leva a oeste a realização do sonho de dois anos antes. O caminho inclui muito cinza, paradas, mas também inclui trilha sonora, por vezes também arranjos de palavras e muitos sentidos, além de, frequentemente, viagens ao mundo de Orfeu.

Orfeu sai de cena, entra Baco, com sua alegria, sua forma viciante de lidar com tudo que envolve. Gosta de envolver produtos de frutas roxas em suas intervenções, embora apareça menos do que aquelas de origem nas gramíneas.

Mas o ingrediente principal da receita de baco é a rede de sorrisos que ele cria, ligando um ao outro de forma quase indissolúvel - ainda que às vezes as cordas sejam roídas e fiquem mais fracas. Ele sequer precisa intervir: a ausência de sorrisos que corrói a corda faz com que os sorrisos se busquem, se descubram, se solidarizem. Porque a quebra de uma corda seria a ruína de Baco. E isso ele não permitiria.

Antes de o ciclo voltar ao zero - ou, às vezes, até um pouco depois -, vem ela. A companheira que se faz presente várias vezes na semana. Aquela com quem eu tenho cada vez mais intimidade, que se deita na cama comigo diversas vezes, que me acompanha nos piores momentos. E eu só sei reclamar dela, xingá-la, praguejar sobre ela. Ah, insônia, você me entenderia se estivesse no meu lugar!

Que se fechem as cortinas. A trilha sonora do amanhã chega muito antes do esperado.

terça-feira, 12 de maio de 2009

O sono dos inocentes

Tarde da noite. Chego em casa, como, penso no que farei no dia seguinte. O computador. Aquela doce tentação de ver os e-mails, sempre tão numerosos, sempre com tantas coisas. Muito o que fazer, de útil, inclusive (aliás, acabei de me lembrar sobre algo importante, aguentem aí. ... Pronto. Livro que preciso encontrar, um problema).

Vá lá, tenho mesmo muito o que fazer e muito disso pode ser feito no computador. Logo, nada de mau em usá-lo. A "questã" é que não faço metade (otimista...) das coisas que penso/quero/tenho que fazer. E aí vão lá horas e horas e quando vejo: pimba! Mais de 2h da manhã e eu ainda não dormir. Pior: estou sem sono.

Pergunta: por que? Resposta 1: insônia. A maldita tem me pegado nos últimos anos. Em alguns casos, consegui capitalizar em cima dela: freelancer, em uma época, trabalhos e estudos em outra. A grande maioria do tempo, porém, é puramente dedicada ao desperdício.

E tem o trabalho. Todo dia, cheg uns 15 minutos, no mínimo, atrasado. Todos os dias acordo pensando que devo sair mais cedo, para não me atrasar mais. Justo, simples. Simples? Acordo, faço as coisas mais rápido, acho que vai dar tempo e quando vejo, fiz tudo igual.

O tempo é uma das preciosidades mais caras que temos na vida e eu sempre sinto como se fosse aquelas ampulhetas, com a areia caindo com cara de desperdício.

Vejam hoje. quase 2h da manhã e eu aqui. Ao menos hoje eu achei um sebo com o livro que eu preciso para um trabalho da faculdade (lembra da pausa lá em icma?). Ao menos estou exercendo um pouco da muita vontade de escrever aqui que tenho (tenho muito mais a dizer sobre isso, mas não tenho conseguido colocar em prática, sabe-se lá por que).

Enfim, boa noite.