terça-feira, 28 de outubro de 2008

Flecha na noite

A música nos fazia cantar. Cervejas, amigos, alegria estampada em sorrisos, em versos, em prosa. O dia se deitava e a noite escurecia o céu e trazia as estrelas para nos dar meia luz.

Em um piscar de olhos, ela apareceu. Tal qual as estrelas, quando ela chegou já era noite. Chegou, sorriu, mas seus olhos não me procuraram. Seus passos seguiram retos até outro lugar, outros braços.

Aproximou os seus lábios de outros e disparou com uma flecha contra o meu peito. Apesar de distância, atirou de muito perto. Rasgou minha pele e explodiu bem no coração. O que aconteceu? O que faz esse incômodo aí?

O céu estrelado ganhou nuvens escuras, tapando a meia luz. Escuridão no peito, flecha fincada, versos e prosa calados, ainda que ainda cantados. Voz embargada, silenciada. Palavras mudas.

Olhos perdidos. Pensamentos esparsos. É preciso centrar-se. Claridade, paz, serenidade. Paz? Não há paz. Claridade de idéias para tentar continuar, serenidade para criar uma barreira às lágrimas, que parecem inevitáveis.

Auto-controle. Sorrisos artificiais. Gosto de sangue, flecha atracada no peito. Os olhos evitam ver de novo, receber nova flechada. Nos olhos, a barreira segura as lágrimas. No coração, o sangue continua sendo bombado. Lentamente, dolorosamente.

Mas vive. Continua batendo loucamente quando a vê. E cheio de esperança.

2 comentários:

  1. ah, a esperança é a última que morre - e a primeira que mata ;p quem sabe com uma flechada, quem sabe...

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  2. Lembrei Adoniran...

    " De tanto levar
    frechada do seu olhar
    Meu peito parece, sabe o quê?
    Tauba de tiro ao álvaro
    Não tem mais onde furar"

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