sábado, 16 de agosto de 2008

A última gota do copo

Tem aquela coisinha que te irrita, mas irrita só um pouco. Nem irrita: é um pequeno incômodo, que você aguenta porque ainda está no começo do namoro, ou acabou de trocar de trabalho. "Tudo bem", você pensa, "logo melhora, eu me acostumo".

É so um jeito de falar que te incomoda, é só um ciúme um pouco exagerado, é só uma hora extra, é uma emergência, é importante, o cliente não quer esperar. Você aguenta, porque, afinal, é preciso ter paciência - no meu caso, era particularmente tímido para retrucar nese tipo de situação.

Aos poucos, os pequenos incômodos vão se acumulando. Mais uma hora extra, mais um ataque de ciúme, mais um jeito de falar que te deixa possesso. De repente, ela te pede para ir buscá-la, ou seu chefe pede para vir no fim de semana. Pronto. O copo, que estava cheio, transborda. Explosão, impulso, raiva, tdo junto, misturado, que ganha contornos mais terríveis do que o fato em si. Resultado de muitas pequenas coisas guardadas, quase sem querer...

Já tendo vivido situãções assim, passei a evitar ao máximo esse tipo de coisa. Não aceito pequenos problemas quieto: prefiro tentar dizer tudo, mesmo que nem sempre seja fácil.

Dizer o que pensa tem o seu custo. Nem sempre é bem visto. Passei a ser chamado de ranzinza no trabalho. Mulheres que eu saí passaram a achar que eu era sincero demais. Não precisava dizer tudo que pensava, nem dizer que so namorava se me apaixonasse - o que não era a maior parte dos casos. Fazer hora extra? Só se for muito necessário...

Passei a pecar pelo excesso. Diante de situações contrárias, via a necessidade de me impor. Posições políticas diferentes, posições de vida diferentes. Reações muito mais fortes do que o necessário. Minha paciência, quenunca foi minha maior qualidade, passou a ser tão exacerbada que virou um defeito. E grave.

O controle passou a ser um problema. Quando dizer tudo, quando não dizer nada? O principal talvez fosse o COMO dizer. Um problema um tanto crônico para quem fala por impulso, quase atropelando quem fala.

Saber dosar as palavras é um dom. Na escrita, na fala e na vida. Um aprendizado diário, em todas as áreas da vida. E que não acaba nunca...

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