sábado, 26 de julho de 2008

A ousadia impede o golpe

O dia vai chegando ao fim, mas ainda há um impedimento. Não há saída antes que o problema se rolva, de alguma forma. Mas há um limite, que impede que o tempo devore tudo completamente - nem em São Paulo tudo funciona 24 horas.

A saída, então, se aproxima. A perspectiva não melhora. O tempo assume seu caráter de Cronos, devorando cada minuto e extinguindo qualquer possibilidade de resolver a situação. Vence o tempo: é hora de partir. Os problemas não tiveram solução até essa hora. Lembrando a máxima famosa, o que não tem solução, solucionado está. É hora de sair de um mundo alugado e voltar ao mundo que cada um tem, o seu, insubstituível - mas, às vezes, destruído pelo aluguel dos outros mundos

Eis que o tempo é novamente decisivo nessa batalha de mundos. Um tenta invadir o outro. A palavra é essa: invadir. Um não é inimigo do outro. É apenas uma questão de visita, de ser cortês, de saber se relacionar um com o outro. O meu mundo não é fechado, aceita conversar. Mas, cada vez menos, não aceita invasões.

Pior: uma invasão tramada no calabouço, à noite, para já amanhecer no adversário. Uma tomada voraz, mas que tentou ser sutil. Um golpe de Estado que parece ter dado resultadoestava invadido e outro prevaleceria. Tudo armado à noite para que na manhã seguinte o nov poder assumisse temporariamente, antes de devolver as coisas à sua ordem.

A interferência, porém, parece inútil. Não havia plano de governo. Era apenas um movimento ideológico, cheio de pessoas preenchidas de paixão. Pessoas que não diferenciam seus dois mundos, que fazem do seu mundo pessoal o mundo do dia-a-dia. Uma visão que eu não compartilho. Um mundo que não é meu.

Tomado por um sentimento nacionalista de território invadido, sentindo o gosto de um mundo que não quer se convergir com outro, com sensação de mãos atadas, o sentimento de reação fica mais e mais intenso. A noite se vai, dá lugar à madrugada, enquanto o relógio martela, minuto a minuto, a derrocada do meu mundo frente ao outro. Ainda que temporária, ainda que não deixe seqüelas, o perigo está na transformação dessa interferência em algo sempre possível.

A manhã já impõe suas cores, quando um movimento toma conta da sede do governo do meu mundo. É um sentimento de retomada do que é seu de direito, de mostrar que não se aceita interferências assim. Que mesmo não sendo o mundo mais diplomático, aceita conversar, mas não aceita tomadas militares, não aceita ações de guerra como essa. Não aceita a transformação de dois mundos diferentes em um só, especialmente por serem tão diferentes. Essa fusão só será possível, um dia, quando os dois mundos conversarem, tiverem objetivos similares - o que, certamente, não é o caso desse.

Em um movimento rápido e com ajuda da tecnologia eletrônica e móvel, uma ação rápida impediuo golpe. Uma retomada como fez o Rei Juan Carlos, na Espanha, na década de 80. Uma retomada do que é seu por direito, do que é de um mundo por direito. A ação foi violenta e teve uma dose de insubordinação. Mas todo movimento é assim, ainda mais quando envolve questão tão séria, não é?

A ação política foi forte, intensa, uma retomada que impediu a ação pirata em uma operação de guerra. Impediu essa tomada, reverteu a situação e expulsou o outro mundo do comando a pontapés. A espada não foi usada, não houve derramamento de sangue. A ordem foi retomada. Mas não se sabe qual será a reação, não se sabe se o mundo expulso tomará atitudes em represália. O que se sabe é: o meu mundo saiu com a força que tem. Haja reação ou não, ele prevalecerá, continuará existindo, independente do que acontecer.

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