quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sobre a (falta de) paixão

Uma das idéias que eu mais acredito é que a paixão é fundamental. Foi ela que me fez acreditar, lutar e conseguir cursar jornalismo na ECA-USP. É ela que me faz descobrir coisas novas do jornalismo sempre e gostar ainda mais. É a falta dela que faz meus relacionamentos serem efêmeros.

Tive um só relacionamento estável na vida. Durou quase um ano, mesmo com problemas que, às vezes, pareciam enormes. Eu e ela enfrentamos sem grandes esforços, porque eles nos pareceram pequenos perto da força que tínhamos juntos. Apenas porque havia intensa e verdadeira paixão. No mais, todos os relacionamentos que tive foram como pedras de gelo entre corpos cheio de desejo: intensos, quentes e voláteis.

Pensava nos relacionamentos, mas lembrei do trabalho. Tive alguns trabalhos, mas apenas um foi estável. Passei dois anos e meio trabalhando na mesma empresa. Primeiro como estagiário, depois como prestador de serviço. Trabalho estável, boa renda. Mas a hora que a paixão tinha acabado e surgiu uma oportunidade, mudei. Mudei, mudei, mudei, sempre em busca da paixão pelo que se faz. Até hoje é assim. Mesmo trabalhando com muito mais prazer, por ser em jornalismo. A busca da satisfação total é algo Freudiano. Inalcançável e interminável.

Meus relacionamentos sempre duraram pouco. Se é que se pode chamá-los assim, porque na maioria das vezes, dura não mais do que um dia (ou noite). Nunca fiz questão ou exigi estabilidade, mas a falta de paixão simplesmente me enjoava. Me alimentava de desejo, que passava pouco tempo depois. Rápido e intenso - e, talvez por isso, um pouco traumático para algumas mulheres que passaram na minha vida.

Os mesmos sintomas na vida pessoal e amorosa me levaram exatamente à mesma causa: falta de paixão. Na vida profissional, não falta paixão pela profissão, mas às vezes falta pelo trabalho em si - efêmero, efêmero... Na vida amorosa, não falta vontade de estabilidade, mas falta se apaixonar, ficar balançado, acordar ao lado de alguém e achá-la linda ao amanhecer - mesmo que ela não esteja.

Talvez a ausência da paixão seja fruta da minha impaciência. "A minha impaciência chega a ser tão grande que às vezes dói", disse Clarice Lispector em A Legião Estrangeira. Começo a acreditar que os mesmos resultados nas duas vidas não são mera coincidência.

4 comentários:

  1. Anônimo2:46 PM

    "Basta observar um ser humano sentado para perceber que é preciso mudanças. Nem que seja pra descansar a outra metade da bunda". Millôr

    (:

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  2. Anônimo10:15 PM

    Segundo post do dia que leio sobre amor, paixão ou coisa assim. E mesmo sabendo como é ruim passar isso - falta de sentir paixão, falta de estar com alguém que não quer estar ao nosso lado - é també bem confortante saber que as histórias se repetem, não importa onde, quem e quando. É meio egoísta, eu sei, mas dá um bom alívio não se sentir só nessas questões.
    Hope you find a lover. With passion :)

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  3. Descobri a poucos anos que esse sentimento é muito comum nos homens (relacionamentos sem paixão). Será que é necessidade de auto-afirmação? Desejo constante de ser "caçador"?

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  4. Olha Ana, eu não diria que é um sentimento de auto-afirmação porque passa muito mais, no meu caso, por experiências anteriores - fracassos, obviamente. Também tenho dúvidas em relação ao sentimento de caçador. Porque vez por outra há mulheres que transformam minhas defesas em paredes de papel e me conquistam com a facilidade que uma faca corta o queijo quente. Mas normalmente não é o padrão. Enfim, uma resposta que eu nunca achei...

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