quarta-feira, 30 de abril de 2008

Lágrimas que embriagam

Em um dia de descanso, que posso acordar sem pensar em nada, sinto amargura. Uma amargura por não participar de algo que meus amigos demonstram se empolgar. Sinto amargura mais por não querer participar, já que eu poderia ir. E sinto o peso de amigos deixando transparecer um sentimento em relação a mim que me entristece, como se eu não ligasse para ninguém.

Sinto-me estúpido, por não conhecer ou não apreciar as muitas atrações que tínhamos à disposição. Sinto não ter a mesma alegria de poder dividir a admiração por algo que simplesmente não me seduz sequer a sair de casa.

O gosto de amargura está na saliva, que parece aumentar seu volume gradativamente, me dando a sensação de me afogar em mim mesmo. Insatisfeito com a própria ausência, ausência que eu não sei por quê.

As lágrimas se misturam com as águas do chuveiro. Já não sei mais onde começa um e termina outro, mas sei que as duas águas estão ali.

Estou embriagado com um livro triste e enebriante, isolado quase que por opção. Bebendo, e se embriagando, com as lágrimas estancadas na boca.

sábado, 26 de abril de 2008

Viagem aos pensamentos de um sábado

Uma coisa que tenho gostado de fazer ultimamente é dar espaço para minha tia-vó me dar seus conselhos, trazer a sua religiosidade, seus estudos sobre a bíblia e tudo mais, mesmo eu não tendo mais nada a ver com religião - ao contrário, a afastei da minha vida ainda na adolescência, quando senti algo parecido com o que Marx retrata na frase: "a religião é o ópio da humanidade".

São muitas razões para dar essa abertura a ela. Além de ter muito apreço e amor por alguém que ajudou a me criar, acho interessante pensar em novos pontos de vista - mesmo que discorde totalmente. Foi em uma dessas conversas que eu percebi: não tenho nenhum pedido, um desejo, um sonho imediato.

Não que eu não tenha sonhos. Ao contrário, os tenho aos montes. Mas sinto como se o objetivo mais latente foi alcançado esse ano, talvez com o maior esforço da minha vida. Eu tenho sonhos. Mas tenho tranquilidade. Depois dos dois últimos anos, aprendi a ter tranqüilidade e paciência para esperar pelo melhor. Nem tudo se resolve em seis meses.

Já fiz a associação da vida profissional e pessoal, onde em ambas sinto que a necessidade do novo me entorpece. Nem relacionamentos duradouros, nem empregos que duram muito tempo. Não é coincidência. É a ânsia de mudanças constantes, de sentir a liberdade que a falta de vínculo traz. Talvez porque em nenhum dos dois campos eu tenha vivido algo estável, duradouro e desejável por muito tempo.

Encontro amigos, conhecidos e as conversas sobre a vida divagam por muitas áreas diferentes. Lembro do final do meu primeiro curso universitário, quando um amigo da minha sala disse que eu era o mais bem colocado, profissionalmente, entre as pessoas do grupo de amigos.

Passados alguns anos, certamente esse "posto" não é meu. E o mais engraçado é que me orgulho disso! Me orgulho de ter me reinventado, buscado começar tudo de novo só porque eu quero senti o prazer de fazer o que gosto. Trabalhar não apenas pela necessidade sempre latente de ganhar dinheiro, mas para satisfazer os desejos pessoais, sorrir, fazer amigos, me realizar.

E o que seria a vida se não pudéssemos nos reinventar, reconstruir, reagir... Ou melhor: agir! Não tenho medo de perder o emprego, mudar a minha vida, ter que estudar muito mais, provavelmente para sempre. Se há um fogo de desejo da alma dentro de mim que eu mantenho acesso, então é o que importa.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Transferência interna na USP existe sim

Ao contrário do que eu publiquei aqui em julho do ano passado, existe, sim, transferência interna na USP. Os alunos podem requisitar transferência para qualquer outro curso da universidade. A seleção é feita através de provas específicas.

Posso dizer porque vi, com meus próprios olhos, a prova acontecer. Que é difícil eu não precisaria nem falar não é? Mas certamente a concorrência é menor do que o vestibular da Fuvest. Portanto, a chance é relativamente maior.

Portanto, preciso desmentir o que eu disse: a transferência interna não é mito. Perdoem o engano.

terça-feira, 8 de abril de 2008

De volta à vida de atleta

Pouco mais de um mês atrás, falei aqui no blog sobre uma possível volta à minha vida de atleta. Bom, depois de alguns problemas, idas e vindas, eis que eu consegui voltar. No último sábado joguei o Bichusp (campeonato interno da universidade entre os calouros das faculdades).

Bom, como eu já tinha falado, a minha grande inspiração no futebol, principalmente porque o vi jogando no Brasil, no estádio, foi Fernando Redondo. O argentino desfilava uma classe que não vi em nenhum outro volante (infelizmente, não vi gente como Falcão jogar). Provavelmente é por causa dos poucos jogos que o vi com a camisa argentina que sempre gostei de jogar com o número cinco às costas - o mesmo que ele usava quando defendia o seu país.

Mas depois de quase sete anos sem jogar futebol de campo e praticamente quatro anos sem praticar exercícios físicos, a única coisa que eu lembrava o Redondo em campo foi mesmo a forma que o nome sugere. Em termos de futebol, eu estava mais para Carlos Alberto (esse, que está no São Paulo): joguei como meia, marquei muito pouco, corri pouco (por falta de preparo físico, diga-se), fiz alguns bons passes, mas nada muito agudo e apareci pouco no jogo.

Para finalizar, o jogo foi em um sábado de manhã e ainda perdemos por 4 a 1. Mas sabe que ainda assim foi divertido? Jogar futebol é sempre um prazer. Ainda mais sabendo que o nosso time não estava treinado (nos conhecemos antes do jogo) e sem preparo físico algum - fiquei torcendo para o jogo acabar porque minhas pernas não respondiam mais.

Bom, ao menos a vida de atleta tem tudo para voltar agora. Vamos ver como será no futsal amanhã.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sobre a (falta de) paixão

Uma das idéias que eu mais acredito é que a paixão é fundamental. Foi ela que me fez acreditar, lutar e conseguir cursar jornalismo na ECA-USP. É ela que me faz descobrir coisas novas do jornalismo sempre e gostar ainda mais. É a falta dela que faz meus relacionamentos serem efêmeros.

Tive um só relacionamento estável na vida. Durou quase um ano, mesmo com problemas que, às vezes, pareciam enormes. Eu e ela enfrentamos sem grandes esforços, porque eles nos pareceram pequenos perto da força que tínhamos juntos. Apenas porque havia intensa e verdadeira paixão. No mais, todos os relacionamentos que tive foram como pedras de gelo entre corpos cheio de desejo: intensos, quentes e voláteis.

Pensava nos relacionamentos, mas lembrei do trabalho. Tive alguns trabalhos, mas apenas um foi estável. Passei dois anos e meio trabalhando na mesma empresa. Primeiro como estagiário, depois como prestador de serviço. Trabalho estável, boa renda. Mas a hora que a paixão tinha acabado e surgiu uma oportunidade, mudei. Mudei, mudei, mudei, sempre em busca da paixão pelo que se faz. Até hoje é assim. Mesmo trabalhando com muito mais prazer, por ser em jornalismo. A busca da satisfação total é algo Freudiano. Inalcançável e interminável.

Meus relacionamentos sempre duraram pouco. Se é que se pode chamá-los assim, porque na maioria das vezes, dura não mais do que um dia (ou noite). Nunca fiz questão ou exigi estabilidade, mas a falta de paixão simplesmente me enjoava. Me alimentava de desejo, que passava pouco tempo depois. Rápido e intenso - e, talvez por isso, um pouco traumático para algumas mulheres que passaram na minha vida.

Os mesmos sintomas na vida pessoal e amorosa me levaram exatamente à mesma causa: falta de paixão. Na vida profissional, não falta paixão pela profissão, mas às vezes falta pelo trabalho em si - efêmero, efêmero... Na vida amorosa, não falta vontade de estabilidade, mas falta se apaixonar, ficar balançado, acordar ao lado de alguém e achá-la linda ao amanhecer - mesmo que ela não esteja.

Talvez a ausência da paixão seja fruta da minha impaciência. "A minha impaciência chega a ser tão grande que às vezes dói", disse Clarice Lispector em A Legião Estrangeira. Começo a acreditar que os mesmos resultados nas duas vidas não são mera coincidência.