quinta-feira, 19 de julho de 2007

Sobre o acidente e nossa cultura como sociedade

Publico aqui texto de Heber Emerich, bastente pertinente.


Por motivo do acidente com a aeronave da TAM em Congonhas, São Paulo, junho de 2007.

No dia após uma catástrofe, é insuportável ver os demagogos de plantão darem as caras pra falar coisas óbvias em momentos de sensibilidade nacional, é irritante os discursos hipócritas que não explicam nada, e justificam o injustificável. Me mordo de raiva ao ver governantes e políticos oportunistas mórbidos fingido estar fazendo algo ou atacando seus opositores, buscando capitalizar eleitoralmente o sofrimento de pessoas. Me enjoa ver veículos de comunicação necrófilos, ávidos por desastres, lançando um monte de “informações” de “especialistas” que são desmentidas hora após hora. Aliás, como tem especialistas neste país!

Não! O problema não são as ranhuras que ainda não tinham sido feitas na pista de Congonhas. Se fosse, não teríamos problemas no controle de tráfego aéreo. Se o problema fosse na aviação não teríamos um caos nas rodovias do país. Os portos não seriam lentos, caros em suas estruturas mergulhadas em corrupção. Se o problema fosse o transporte, o fornecimento de energia estaria garantido por anos.

A culpa não é da ranhura! Os presídios continuam super lotados (de pobres), formando bandidos em seus interiores. A justiça está cada vez mais lenta, corrompida e injusta. A polícia continua despreparada e mal paga. Não, o problema não é a falta da ranhura na pista, nossas escolas e universidades tem cada vez menos qualidade, temos educadores renomados, gênios em diversas áreas da educação, mas não damos ouvidos, nossos governos preferem resolver as coisas aumentando uma verba aqui, criando um cargo lá, construindo uma faculdade ali, e afrouxando uma lei acolá, quando o que precisamos é uma reestruturação geral.

Se o problema fossem apenas as estruturas básicas citadas não apreciaríamos dia-após-dia, mandato após mandato, comissões e conselhos que consomem os recursos do país para proteger uma classe política que vive dentro de uma bolha. Não, o problema não é a ranhura da pista de congonhas, que pode ter resultado nesta enorme tragédia.

A tragédia maior é nossa tragédia como sociedade deteriorada que se conduz a uma próxima geração pior ainda. Não conseguimos olhar adiante.A crise não é na aviação civil, a crise é na sociedade brasileira.

A nação tem tudo pra crescer e se desenvolver, tudo está a favor, mas nossa visão curta que reflete na visão de nossos governantes, ou vice-versa, não permite trabalharmos pelo futuro, damos um jeitinho, queremos a nossa parte hoje, agora, e ignorantes, colocaremos a culpa numa ranhura qualquer, nessa, e numa próxima tragédia maior.

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