domingo, 29 de outubro de 2006

Inconscientemente consciente

Domingo de céu claro, poucas nuvens, pássaros cantando e sol. Acordo cedo, depois de uma rara noite de descanso. É hora de colocar as coisas em dia, buscar o caminho que chegue perto do objetivo - propositalmente colocado em um lugar quase impossível de ser alcançado, para que a busca por melhoria nunca acabe.

Hora de digitar dois número que decidem quem estará à frente do país nos próximos quatro anos. Diferente do primeiro turno, quando o voto nulo foi a sensação terrível de anti-cidadania e de-serviço à sociedade, desta vez o voto foi válido.

Falar sobre ideais e sonhos é bastante propício em um dia de eleição. Os ideais perdidos nas urnas, os sonhos que ainda são apenas sonhos na cabeça e a imensa vontade de mudar tudo ao redor. A busca, contudo, é mudar a si mesmo, aprimorar e aí sim tentar mudar tudo ao redor.

Ideologia. Palavra pouco palpável e desprezível para muitas pessoas. Que isso não existe na maioria eu até entenderia, embora acredite que as ligações que foram cortadas. Assim como os sonhos. Ninguém é capaz de destruir nossos sonhos, a não ser nós mesmos. O que nos tiram é a esperança de alcançá-los, chegar onde nossas mente nos leva quando fechamos os olhos.

Esta foi uma noite que mil coisas passaram pela minha cabeça. Da morte de um primo, um jovem com um quarto de século vivido, à preocupação por se preparara bem para a batalha que se aproxima cada vez mais - já falta menos de um mês. Além de preocupações, digamos, menores, tais como olhos que passeiam pelos sonhos, sorrisos que dão alegria, beleza admirada de longe, desejos guardados secretamente, beijos que vagam apenas no fechar dos olhos, no mundo de Orfeu.

Ainda há o fardo durante a semana, a loucura, a raiva, insanidade, ódio, desgosto, desmotivação, infelicidade. Tudo junto em um mesmo pedaço de lugar, onde tudo parece conspirar contra. Um lugar de paredes brancas, pintadas mentalmente de vermelho com meu sangue, arrancado sem meu consentimento. A mais-valia de Marx vivida cada dia, com a crueldade dos donos de fábrica do início da Revolução Industrial. A necessidade me faz suportar todo o peso que esse fardo traz. Falta pouca, digo a mim mesmo.

Limpo a mente para me dedicar onde preciso. Tento escapar da dor de perder alguém de seu próprio sangue, mesmo que não seja tão próximo. Tento me esconder das cerimônias de lamentação coletivas e me dedicar aos prismas, cones, cilindros, reações orgânicas, genética, elétrica, movimentos uniformemente variados, colisões, conflito árabe-israelense...

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