quinta-feira, 18 de maio de 2006

O Caos

Já se sabia dos ataques à polícia na noite de sexta, no sábado e domingo. A segunda-feira já começou com a cidade recebendo as notícias do terror que, teoricamente, o PCC estava causando.

Militarmente, a estratégia do PCC foi excelente. Ataque a postos policiais e delegacias, com rapidez e precisão, além de força. A partir deste momento, a polícia, em uma mistura de auto-proteção e vingança pelos companheiros mortos, se preparou para receber o ataque criminoso.

O ataque veio, de fato. Mas não onde se esperava. O alvo agora foram civis: estações de metrô atacasas, ônibus queimados, agências bancárias destruídas. Agora não havia mais um alvo: tudo era passível de ataque.

A segunda-feira do paulistano começou normal. Mas as notícias e os boatos sobre os ataques dos criminosos se espalhavam. As mortes, o terror, a polícia nas ruas com armamento pesado. Alguma coisa estava errada.

No meu caminho para o trabalho, policiais normalmente tomam seu café da manhã. Desta vez, havia não só um, mas dois carros de polícia. A tranquilidade dos guardas trocada pela tensão nos seus rostos, e as escopetas nas mãos.

Enquanto transcorria a manhã, mais e mais notícias sobre os ataques, além dos muitos boatos. Depois do almoço, tudo ficou pior: ataques por toda a cidade. Comércios começaram a fecham. O transporte da cidade completamente prejudicado pelos ataques aos ônibus. Não havia como se movimentar pelos principais pontos de acesso à cidade.

Movimentação. Agitação. Notícias. Boatos. Medo.

As pessoas começaram a sair na ruas, dispensados do trabalho. Não havia transporte, e o pânico estava espalhado. Com tudo isso, minha chefe falou comigo sobre eu ir para casa, por morar longe e ir embora de metrô. Me perguntou sobre outras pessoas que também moravam longe e voltam de metrô.

15:30.
Peguei o metrô na zona oeste em diração à zona leste. Muitas pessoas se aglomeravam - algo incomum para o horário. A estação Sé, a estação mais movimentada por ser ponto de encontro de duas importantes linhas do metrô, estava lotada. O abrir das portas foi o apito inicial de um jogo sem vencedores. Desesperadas, as pessoas se acotovelam, empurram, gritam, apertam, se jogam para dentro do trem.

Os boatos agora aconteciam dentro do vagão. Um diz-que-me-diz tremendo, entre reclamações e inconformação em relação a essa situação.
Estamos não mãos dos bandidos!
Assustadas, as pessoas se entreolhavam, descrentes. O que estaria acontecendo? Qual o risco? Tudo parecia que podia acontecer. O medo tinha sido espalhado. As pessoas quase corriam para casa, com medo das conseqüências da terrível noite anterior. Os comércios fechados,em plena tarde de segunda-feira. As ruas cada vez mais esvaziadas, mas cada vez mais cheia de uma aflição latente.

Ameaças. Ruas sendo fechadas pela polícia. Comércios sendo fechados por criminosos. Tensão. Tudo fechado. A maior cidade da América Latina pára e se esconde. Se esconde de um adversário terrível, sem forma, sem cor: o medo.

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