terça-feira, 23 de maio de 2006

caos nosso de cada dia

Manhã de terça-feira. São Paulo amanhece ainda mais cinza, com as nuvens carregadas e a garoa fina. Metrô cheio, com milhares de pessoas a caminho do trabalho. Eis que todos estão juntos, unidos - involutariamente, é claro -, apertados uns contra os outros em busca de um pouco de espaço.

Lá pelas tantas, o metrô abre suas portas em uma estação. Não há mais espaço, mas as pessoas insistem em entrar. Fulano empurra ciclano que empurra beltrano que empurra alguém que empurra um gordinho. Um gordinho que estava com a namorada, e que fica nervoso. Depois de uns "você é forgado", tudo volta ao silêncio.

Chega a hora do gordinho descer. Ele passa por quem ele tinha discutido - um rapaz de terno e gravata - e o empurra acintosamente. Discute, o chama de folgado, desce do metrô e o chama para a briga. O rapaz discute falando baixo. Até a porte do metrõ se fechar. Dali em diante, começa a olhar para os lados e dizer: "É, gordinho né, tem que parar de comer".

É, mas a namorada do gordinho ainda estava no vagão. Claro, começa a discutir com ele. "Você que começou", "Ele é folgado" e tudo mais. Eu com meu fone, ouvindo Garbage, e vendo no que aquilo ia dar.

As coisas se acalmam por alguns segundos, quando um ou outro diz que não vale a pena discutir. Foi o exato tempo de uma estação, até a namorada do gordinho começar a ir até a porta, para descer do vagão. Ela para exatamente atrás do rapaz com quem discutiu há pouco. A porta se abre, e ela repete o gesto do namorado, e empurra o rapaz. Não satisfeita, ela volta e acerta um daqueles tapas barulhentos na cara do rapaz. Ele reage imediatamente, e chuta a namorada do gordinho com certa violência - embora, para sorte dela, não tenha acertado em cheio. Um clarão se abre no metrô lotado. Como as pessoas arranjaram espaço em segundos? Não sei. Mas a namorada do gordinho vai pra cima do rapaz, tentando bater nele de alguma forma, mas muito desordenadamente, não acerta sequer um soco em cheio. O rapaz tentava se defender e, talvez, acertar ela também. Toca a campainha, indicando qwue a porta irá fechar. A namorada do gordinho vai com pressa para a porta, xingando o rapaz.

A porta se fecha. O metrô parte. Duas estações depois, o rapaz desce do vagão, e segue seu rumo. As pessoas se entreolham, alguns riem, outros ficam sérios.

E a vida segue nos trilhos do caos.

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