segunda-feira, 29 de maio de 2006

Equação da vida

A pergunta que permeia uma equação é:
Quais valores para a incógnita x que tornam a igualdade verdadeira?
De um lado, as escolhas que já nasceram feitas, e das quais muita gente sequer se dá ao trabalho de pensar - apenas a mantém. O outro lado se mantém equilibrado, com essa tranquilidade aparente e, muito provavelmente, "escolhida" desde o começo de tudo.

Quando queremos alguma coisa, mudamos o valor depois do sinal de igual. E quando isso acontece, é preciso balancear o outro lado. Questão óbvia, que envolve, claro, escolha e adaptação.

Eu colquei uma escolha independente, libertadora. A posse da sua própria vida. Só que para chegar a esse resultado, é preciso balancear a equação. Os valores de x tem que ser mudados. É este o balanço que agora busco, ainda sem encontrar um valor que torna a equação verdadeira.

quinta-feira, 25 de maio de 2006

crise - no bom sentido

bifurcação à frente.

e não dá pra fazer como a propaganda de uma montadora, em que o personagem escolhe seguir pelo meio dois dois caminhos.

Já vejo lá a bifurcação, e nada de saber pra que lado vou. Os gregos chamariam de "crise" - um conceito bom pra eles, pois na crise temos que encontrar uma forma de nos aprimorarmos, melhorarmos mesmo.

Que eles estejam certos.

terça-feira, 23 de maio de 2006

caos nosso de cada dia

Manhã de terça-feira. São Paulo amanhece ainda mais cinza, com as nuvens carregadas e a garoa fina. Metrô cheio, com milhares de pessoas a caminho do trabalho. Eis que todos estão juntos, unidos - involutariamente, é claro -, apertados uns contra os outros em busca de um pouco de espaço.

Lá pelas tantas, o metrô abre suas portas em uma estação. Não há mais espaço, mas as pessoas insistem em entrar. Fulano empurra ciclano que empurra beltrano que empurra alguém que empurra um gordinho. Um gordinho que estava com a namorada, e que fica nervoso. Depois de uns "você é forgado", tudo volta ao silêncio.

Chega a hora do gordinho descer. Ele passa por quem ele tinha discutido - um rapaz de terno e gravata - e o empurra acintosamente. Discute, o chama de folgado, desce do metrô e o chama para a briga. O rapaz discute falando baixo. Até a porte do metrõ se fechar. Dali em diante, começa a olhar para os lados e dizer: "É, gordinho né, tem que parar de comer".

É, mas a namorada do gordinho ainda estava no vagão. Claro, começa a discutir com ele. "Você que começou", "Ele é folgado" e tudo mais. Eu com meu fone, ouvindo Garbage, e vendo no que aquilo ia dar.

As coisas se acalmam por alguns segundos, quando um ou outro diz que não vale a pena discutir. Foi o exato tempo de uma estação, até a namorada do gordinho começar a ir até a porta, para descer do vagão. Ela para exatamente atrás do rapaz com quem discutiu há pouco. A porta se abre, e ela repete o gesto do namorado, e empurra o rapaz. Não satisfeita, ela volta e acerta um daqueles tapas barulhentos na cara do rapaz. Ele reage imediatamente, e chuta a namorada do gordinho com certa violência - embora, para sorte dela, não tenha acertado em cheio. Um clarão se abre no metrô lotado. Como as pessoas arranjaram espaço em segundos? Não sei. Mas a namorada do gordinho vai pra cima do rapaz, tentando bater nele de alguma forma, mas muito desordenadamente, não acerta sequer um soco em cheio. O rapaz tentava se defender e, talvez, acertar ela também. Toca a campainha, indicando qwue a porta irá fechar. A namorada do gordinho vai com pressa para a porta, xingando o rapaz.

A porta se fecha. O metrô parte. Duas estações depois, o rapaz desce do vagão, e segue seu rumo. As pessoas se entreolham, alguns riem, outros ficam sérios.

E a vida segue nos trilhos do caos.

sexta-feira, 19 de maio de 2006

entrevista do jornal Folha de São Paulo com o governador de São Paulo, Cláudio Lembro. Vale a pena ler na íntegra aqui.

Folha - O que o senhor pode dizer para um jovem de 15 a 24 anos, que vive em ambientes violentos da periferia? Que ele vai ter escola? Saúde? Perspectivas de emprego? Como afastá-lo de organizações criminosas como o PCC?

Lembo - Acho que você tem duas situações muito graves: a desintegração familiar que existe no Brasil, e a perda... Eu sou laico, é bom que fique claro para não dizerem que sou da Opus Dei. Mas falta qualquer regramento religioso. O Brasil está desintegrado e perdeu seus valores cívicos. É ridículo falar isso mas o Brasil só acredita na camisa da seleção, que é símbolo de vitória. É um país que só conheceu derrotas. Derrotas sociais...Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa.

Folha - Que ficou assustada nos últimos dia.

Lembo - E que deu entrevistas geniais para o seu jornal. Não há nada mais dramático do que as entrevistas da Folha [com socialites, artistas, empresários e celebridades] desta quarta-feira. Na sua linda casa, dizem que vão sair às ruas fazendo protesto. Vai fazer protesto nada! Vai é para o melhor restaurante cinco estrelas junto com outras figuras da política brasileira fazer o bom jantar.

Folha - Tomar conhaque de R$ 900 [preço de uma única dose do conhaque Henessy no restaurante Fasano].

Lembo - Nossa burguesia devia é ficar quietinha e pensar muito no que ela fez para este país.

Dado o recado?

Crise

Um dia que parecia "normal". Em uma metrópole como São Paulo, os abalos causados pelo medo e terror da segunda-feira são graves, e não passa de uma hora para outra. Ainda assim, parecia que a cidade voltava ao seu ritmo normal. Voltava ao seu ritmo 24 horas online.

Boatos. O diz-que-me-diz de dois dias atrás, mas dessa vez à noite, em pelo intervalo entre a última e a penúltima aula. "O bicho tá pegando", dizia alguém. Entre brincadeiras e preocupação, a aula seguiu.

O trajeto até chegar em casa é bem vazio. Até porque às 23 horas as pessoasnão costumam mesmo estar na rua. Os comércios já fecharam, e em um bairro residencial, só se ouve o silêncio do vazio.

Neste dia, não quis fazer o trajeto com trilha sonora, como tinha feito no dia anterior. Queri estar 100% ligado. Afinal, tinha recebido notícias de que uma delegacia havia sido atacada em Osasco. Universidades, como a PUC, encerraram as atividades mais cedo, temendo um possível ataque noturno na cidade.

Entre um passo e outro, uma olhada para os lados. Engraçado que medo talvez não seja a palavra para esta situação. Até porque andar sozinho na rua tarde da noite não era novidade pra mim. Já trabalhei à noite, e andava sempre tarde da noite nas ruas vazias.

Tensão. Essa é a palavra. O sentimento. Andar com os olhos ligados, os ouvidos atentos a qualquer ruído.

Ao chegar na rua de uma delegacia, eu constato: algo poderia acontecer, de fato. A rua estava fechada, isolada pelos policiais. Viaturas e mais viaturas espalhadas, com policiais armados com escopetas e armas calibre 12. Todos a postos, esperando mesmo algo.

Mais 10 minutos de caminhada, e estava em casa. Sã e salvo. Não esperava nada diferente, mas a sensação de estar na rua sabendo que ataques podem acontecer não é bom. Refém da cidade em crise.

quinta-feira, 18 de maio de 2006

Saindo do restaurante, na hora do almoço, vemos dois policiais na porta. Um de nós pergunta como estava a situação, após os ataques do PCC.
- Ah, agora tá tranquilo! Fizemos um acordinho com os (sic) ladrão né?

O Caos

Já se sabia dos ataques à polícia na noite de sexta, no sábado e domingo. A segunda-feira já começou com a cidade recebendo as notícias do terror que, teoricamente, o PCC estava causando.

Militarmente, a estratégia do PCC foi excelente. Ataque a postos policiais e delegacias, com rapidez e precisão, além de força. A partir deste momento, a polícia, em uma mistura de auto-proteção e vingança pelos companheiros mortos, se preparou para receber o ataque criminoso.

O ataque veio, de fato. Mas não onde se esperava. O alvo agora foram civis: estações de metrô atacasas, ônibus queimados, agências bancárias destruídas. Agora não havia mais um alvo: tudo era passível de ataque.

A segunda-feira do paulistano começou normal. Mas as notícias e os boatos sobre os ataques dos criminosos se espalhavam. As mortes, o terror, a polícia nas ruas com armamento pesado. Alguma coisa estava errada.

No meu caminho para o trabalho, policiais normalmente tomam seu café da manhã. Desta vez, havia não só um, mas dois carros de polícia. A tranquilidade dos guardas trocada pela tensão nos seus rostos, e as escopetas nas mãos.

Enquanto transcorria a manhã, mais e mais notícias sobre os ataques, além dos muitos boatos. Depois do almoço, tudo ficou pior: ataques por toda a cidade. Comércios começaram a fecham. O transporte da cidade completamente prejudicado pelos ataques aos ônibus. Não havia como se movimentar pelos principais pontos de acesso à cidade.

Movimentação. Agitação. Notícias. Boatos. Medo.

As pessoas começaram a sair na ruas, dispensados do trabalho. Não havia transporte, e o pânico estava espalhado. Com tudo isso, minha chefe falou comigo sobre eu ir para casa, por morar longe e ir embora de metrô. Me perguntou sobre outras pessoas que também moravam longe e voltam de metrô.

15:30.
Peguei o metrô na zona oeste em diração à zona leste. Muitas pessoas se aglomeravam - algo incomum para o horário. A estação Sé, a estação mais movimentada por ser ponto de encontro de duas importantes linhas do metrô, estava lotada. O abrir das portas foi o apito inicial de um jogo sem vencedores. Desesperadas, as pessoas se acotovelam, empurram, gritam, apertam, se jogam para dentro do trem.

Os boatos agora aconteciam dentro do vagão. Um diz-que-me-diz tremendo, entre reclamações e inconformação em relação a essa situação.
Estamos não mãos dos bandidos!
Assustadas, as pessoas se entreolhavam, descrentes. O que estaria acontecendo? Qual o risco? Tudo parecia que podia acontecer. O medo tinha sido espalhado. As pessoas quase corriam para casa, com medo das conseqüências da terrível noite anterior. Os comércios fechados,em plena tarde de segunda-feira. As ruas cada vez mais esvaziadas, mas cada vez mais cheia de uma aflição latente.

Ameaças. Ruas sendo fechadas pela polícia. Comércios sendo fechados por criminosos. Tensão. Tudo fechado. A maior cidade da América Latina pára e se esconde. Se esconde de um adversário terrível, sem forma, sem cor: o medo.